Caixa Mágica, uma das distribuições portuguesa de GNU/Linux, lançou recentemente a primeira beta da versão 12. Esta nova versão é marcada por uma mudança de base da distribuição para a Mandriva 2008, deixando para trás o Suse.
Quem ainda não conhece esta distribuição, não sabe o que está a perder. Eu já tive oportunidade de testar a primeira beta da nova versão e posso dizer-vos que os utilizadores da Caixa Mágica, ao contrário dos utilizadores de um certo sistema proprietário, têm razões mais que suficientes para dizer "WOW".
Como se tem falado muito do GNU/Linux como sistema para o desktop e aproveitando o lançamento da primeira beta da Caixa Mágica, o Webtuga tentou fazer uma pequena entrevista com os responsáveis deste projecto. Paulo Trezentos e Flávio Moringa acederam gentilmente ao nosso pedido.
Webtuga: Na nova versão da Caixa Mágica, a versão 12, o projecto decidiu adoptar a Mandriva como base. Quais foram as razões para esta mudança e que podem os utilizadores esperar dela?
Flávio Moringa: Tal como indicado em http://contribsoft.caixamagica.pt/trac/wiki/LetterToTheCommunity, as razões não tiveram como base aspectos meramente técnicos, mas principalmente de ordem estratégica. A associação à Mandriva permite-nos ter uma colaboração mais estreita em todo o processo de desenvolvimento da distribuição, devido ao facto de toda a "máquina" Mandriva não ter o peso na Novell/SUSE (a base anterior da Caixa Mágica) e facilitando assim a troca de experiências de uma forma muito mais simplificada. Isto aliado ao facto de estarmos inserido num projecto europeu no qual somos parceiros (ou seja o gelo já estava quebrado a nível de contactos), e considerando que a Mandriva é reconhecidamente umas das distribuições mais amigáveis de usar levou a esta tomada de decisão. Conseguimos assim colaborar de forma a trazer aos nossos utilizadores o melhor que o mundo do Linux tem para oferecer, ou seja, a facilidade de utilização da Mandriva, aliada ao "know how" que possuímos do mercado português e das necessidades especificas que ele possui.
Webtuga: Se um utilizador pretender instalar a Caixa Mágica no seu computador, pode fazer o download gratuito do site do projecto, mas também pode adquirir o sistema operativo. Quais as vantagens da aquisição da Caixa Mágica sobre o download?
Flávio Moringa: A grande vantagem são os serviços associados. O software é livre e quem quiser pode instalá-lo onde entender e como entender, mas o pacote, além do software, integra um conjunto de serviços que pode fazer a diferença para muita gente, nomeadamente:
– Suporte telefónico de 30 minutos de apoio à instalação;
– Suporte por e-mail durante 6 meses;
– Desconto em formação Caixa Mágica;
– Manual impresso;
– DVD’s em versões de 32 e 64 bits;
Este tipo de serviços não estão incluídos em sistemas operativos proprietários, e mesmo a nível de distribuições Linux, as restantes à venda em Portugal não possuem centros de apoio cá, o que torna o acesso ao suporte bem mais complicado.
Com estes serviços incluídos é possível assim garantir a empresas ou particulares que se sintam menos à vontade para instalar este novo sistema, que caso surjam dificuldades, existe alguém que os pode ajudar rapidamente a ultrapassá-las.
Webtuga: Este tem sido um tópico muito debatido, por isso não posso deixar de fazer a seguinte pergunta: Consideram o Linux um sistema operativo tão bom ou superior aos sistemas proprietários no desktop?
Flávio Moringa: Como em tudo na vida, depende sempre do uso pretendido. Se me disser que o Sistema Operativo actual que usa serve para ler e escrever documentos office, navegar na internet, ler e enviar correio electrónico, imprimir e digitalizar documentos, ver filmes e ouvir música, então a minha resposta é que um sistema GNU/Linux é claramente superior e está neste momento a deitar dinheiro à rua se investir em qualquer outro sistema. E isto sem precisar de estar minimamente familiarizado com o sistema. Se além do que referi, precisa de ter alguma tipo de ligação a redes com áreas e utilizadores partilhados, sistemas de correio electrónico especiais (ex: exchange server) então muito provavelmente um sistema GNU/Linux continua a ser uma excelente alternativa, mas já pode precisar de apoio técnico para algumas configurações. Finalmente, se possui alguma aplicação que funciona exclusivamente num Sistema Operativo Proprietário, se possui algum hardware que não tenha suporte em Linux ou usar o seu computador para jogar jogos de última geração, então nesse caso poderá ser complicado, mas não impossível, usar uma distribuição de GNU/Linux. Mas como referi inicialmente, cada um destes casos depende sempre vários factores que só o utilizador pode indicar. Posso, no entanto, afirmar categoricamente que em 90% dos casos de utilização de um computador numa empresa, um sistema GNU/Linux supera a nível de funcionalidades, segurança e performance qualquer sistema proprietário.
Webtuga: Como classificam o panorama do software livre e a adopção de sistemas livres em Portugal?
Flávio Moringa: Ainda somos um país muito agarrado aos sistemas proprietários, mas é notório que uma grande mudança está a começar a acontecer. Em primeiro lugar temos o Estado, que está cada vez mais a perceber as enormes vantagens da utilização do software livre, como podemos observar pelo Linius (O Linux do Ministério da Justiça), pela utilização, nas escolas, de portais livre como o moodle, pela lançamento em simultâneo da aplicação de acesso ao futuro cartão do cidadão para as três principais plataformas (Linux, Windows e MAC), entre outros como se pode ver em http://www.softwarelivre.gov.pt/boas_praticas/, e ainda pela organização de eventos sobre esta temática como por exemplo o evento Software livre na Administração Pública que mostrou o que de melhor se faz no Estado português nesta área. Temos depois várias empresas a apostar em usar software livre como principal ferramenta de desenvolvimento, como o portal Sapo do grupo PT e a UZO da TMN. E temos cada vez mais empresas a dar apoio de consultoria e outsourcing nas áreas do software livre, como a Caixa Mágica, a DRI, a Ângulo Sólido, etc.
Com todos estes grandes "players" no mercado parece-me ser só uma questão de tempo até que os utilizadores individuais, e as pequenas empresas se apercebam das vantagens que têm em passar a usar software livre no seu dia a dia. Esta é a principal batalha que se trava agora, conseguir mudar as mentalidades das pessoas para que se apercebam que o mundo já não é só um Sistema Operativo, mas que existem alternativas melhores, mais baratas, mais fiáveis e acima de tudo que não restringem em nada a forma como cada pessoa pode tirar partido desse sistema.
Webtuga: Quais as perspectivas de futuro para a Caixa Mágica?
Paulo Trezentos: A Caixa Mágica aposta num crescimento sustentado, afirmado-se como um dos pricipais especialistas Open Source em Portugal. Até 2010 apostamos em crescer em Portugal, fornecendo Linux às grandes organizações com ganhos económicos e de robustez. Para isso, contamos com desenvolvimento interno e aposta em Investigação e Desenvolvimento.
Outra área que pretendemos continuar a liderar é no desenvolvimento Open Source em linguagens como PHP, Perl e Python em projectos para grandes clientes.
Sabemos que atingir estes objectivos ambiciosos só é possível com recurso a uma equipa motivada e altamente qualificada. É por isso que continuaremos a aposta em recrutar os melhores.
O Webtuga agradece a disponibilidade para responder a estas questões e faz votos de muito sucesso para o projecto Caixa Mágica e todos os envolvidos nele.
Já experimentei várias distribuições Linux (ubunto, caixa mágica, slax, e outras que agora não me lembro), sempre em live cd.
Devo dizer que a única que funcionou sem problemas e a que me permitiu ligação à Internet com muita facilidade foi a distro da Caixa Mágica.
Por motivos profissionais uso o XP, mas gostava de poder instalar Linux, por forma a explorar as suas funcionalidades e para tirar partido do seu potencial.
Acho que foi uma boa aposta mudar para o Mandriva!
Espero que tenha sucesso!
Boa entrevista!